quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

GRITO DE ALERTA


GRITO DE ALERTA


Fica um vacilo do avesso inverso. Simulo palavras sinceras num instante de dor. Dei minha cara a tapa, abri meu peito, meu coração padece, minha alma sangra, a rejeição acertou-me em cheio. Amarguras sentidas e contidas.


Esse mundo não é meu, mas deveria ser, porque não mereço?


Que democracia é essa?


É bem mais simples do julgam.


Não posso negar minha essência, meu ser, meu eu. Opção ou orientação?


Nada faz sentido. Sentenciaram-me a viver uma vida que não me pertence, não é minha.


O amor é um todo, não apenas uma porção, ou se quer fragmentos de algo que não se sabe como pode machucar tanta gente.


Não quero esconder, eu não preciso fugir como um animal prestes a ser abatido. Tantas regras incertas, limites que nem se quer existem.


Eu vou lutar pela independência dou meu verdadeiro EU.


Não quero ser apenas um quadro com uma bela moldura na parede de alguém, apático, sem vida, um ser inanimado.


Eu tenho vida. Eu tenho alma, eu tenho coração, eu sou cheia de emoção e não vou abortá-las. Apenas quero ter o direito e a razão de amar quem eu quiser.


Não quero silêncios disfarçados, olhares atravessados, julgamentos ocultos; também não preciso de discursos intermináveis que muito falam e nada dizem.


Quero apenas fazer valer meu direito de ser feliz, plenamente feliz, completamente feliz, sutilmente feliz.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS


Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908), escritor carioca, brasileiro. Considerado o pai do realismo no Brasil, escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba e vários livros de contos, entre eles, Papéis Avulsos, no qual se encontra o conto O Alienista, no qual discute a loucura. Também escreveu poesia e foi um ativo crítico literário, além de ser um dos criadores da crônica no país. Foi o fundador da Academia Brasileira de Letras.

Considerado por muitos o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores escritores do mundo, enquanto romancista e contista. Suas crônicas não têm o mesmo brilho e seus poemas têm uma diferença curiosa com o restante de sua produção: ao passo que na prosa Machado é contido e elegante, seus poemas são algumas vezes chocantes na crueza dos termos similar talvez à de Augusto dos Anjos.

Em sua fase romântica: ambítua seus poemas em ambiente urbano, espelha-se em José de Alencar, mas sem sua rispidez e sua volúpia, pelo contrário mostra certo conservadorismo.

Abandona muita dessas características e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, iniciando o realismo no Brasil, um tom próximo ao coloquial, mas com certo requinte, impactante e provocante, incluindo na literatura nacional temas antes não expostos como: a natureza feminina; utiliza-se de ironias refinadas para criticar e abusa da narração em primeira pessoa para criar certo humor, com metalinguagem conversando com o leitor e deixando a obra subjetiva, com uma visão parcial do narrador, o maior exemplo é Dom Casmurro.


Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?


SAUDADE

Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.


Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?


Ana Herbster



quarta-feira, 15 de julho de 2009


É SÓ O AMOR
Tem muito tempo já que li um livro que contava uma linda história, que agora vou contar para vocês do meu jeito.
Em um reino muito distante, as pessoas eram bastante frias. O amor que tinham não passavam à diante, pois acreditavam que se dessem esse amor, elas ficaria fracas e morreriam. Pensando dessa forma, tudo foi ficando mais e mais frio, ninguém não se importava com ninguém, nada sensibilizava, elas simplesmente não amavam e não se sentiam amadas.
O rei já não amava a rainha, que em contra partida não amava a princesa, sem amor recebido, a princesa não esperava o príncipe, porque sabia que não ia dar seu amor a ele e nem iria receber amor. Os pastores não amavam os rebanhos, que deixaram de produzir leite e lã. O padeiro não amava mais a arte de fazer pães. As esposas não amavam seus maridos e assim não nasciam mais crianças nesse reino em que o amor não era exteriorizado, sentido. E tudo seguia sem cor, sem amor.
Até que um belo dia, um forasteiro chegou ao reino e achou de se apaixonar pela princesa e sem medo, entregou todo seu amor a ela, vendo que ele não havia morrido após entregar-lhe o amor, ela experimentou dar um pouco desse amor aos seus pais que ficaram surpresos com aquela luz que irradiava por todo o castelo.
Eis que o rei decretou que daquele momento em diante, era lei as pessoas darem e receberem amor, pois esse era o sentimento que iria salvar seu reino.
Os rebanhos nunca haviam produzido tanto leite e lã de qualidade como agora. Os pães que o padeiro fazia eram de excelente qualidade. Maridos e mulheres trocavam amor sem medo, e as crianças começaram a nascer saudáveis e cheias de amor para retribuir a dedicação dos pais.
Então, como em boa parte das histórias, todos viveram felizes para sempre.
Imaginem se a partir deste momento, cada um de nós resolvesse dar amor uns aos outros, sem nos perguntarmos se são brancos, negros, pardos, amarelos, índios, ricos, pobres, bons, ruins, lésbicas, gays, ladrões, assassinos, enfim; se pudéssemos amar nosso próximo, como gostaríamos de ser amados, e essa energia do amor tomasse tal proporção que acabasse com esse holocausto em que o nosso planeta Terra vive. Não existiriam mais guerras, nem fome, nem sede, as pessoas não passariam frio, e teríamos aprendido a maior lição de amor que o Nosso irmão Jesus veio nos ensinar. AMA TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO.
Quem sabe, nesse exato momento não estou plantando uma semente no teu coração que agora ler esse texto? A propósito, o amor é a maior força que existe, é ele que move nossas vidas, amar não dói, amar de peito aberto, faz bem ao coração e a alma.
E porque não agora olhar pro irmão que está ao teu lado, dar-lhe uma abraço fraterno e dizer meu irmão eu te amo?
Sei que esse tipo de coisa, alguém sempre tem que começar, então serei a primeira, você que agora está lendo, sinta-se abraçado e saiba que eu amo você meu irmão.
Ana Herbster

terça-feira, 14 de julho de 2009



A SAGA DO PAPAGAIO

Esse papagaio é velho. Ele não fala e vive quieto pelos cantos.
Lá fui eu encarnar a Veterinária para tentar desvendar se o tal bichinho afinal é novo ou velho.
Recorri às páginas de pesquisa do Santo Google, para resolver o mistério. Lia algo, levantava, ia até o quintal e examinava a pobre ave, que além de não entender nada do que estava acontecendo ficou bem desconfiada.
Mas daí você devem está pensando o quanto as lamparinas do meu cérebro estão apagadas, pra eu não levar logo o bicho em um Veterinário especializado em animais silvestres e acabar de uma vez por todas essa história.
Bem, acreditem, eu pensei nisso! Seria bem mais fácil a não ser pelo fato do papagaio não ter registro no IBAMA, já que eu não tinha a certidão de nascimento dele eu estaria cometendo um crime, daí meu fantástico mundo de Bob (vocês lembram desse desenho?) criou toda a cena na minha cabecinha fértil. Eu na sala de espera da clínica, segurando uma gaiola contendo uma ave silvestre dentro e a fiscalização chegando e me dando voz de prisão pelo tal delito. Desisti na mesma hora.
Lembrei que tenho uma amiga que mora em outra cidade que é Veterinária e sempre recorro a ela quando preciso saber algo relacionado aos meus bichinhos de estimação, entrei no messenger, e via que ela estava on-line, e fui logo perguntando:
- Oi...td bem??
Assim, como eu faço pra saber se um papagaio é novo ou velho?
- Hã?
Não sei...
- Ah, tudo bem...você deve ter faltado nessa aula.
Continuei nas páginas de pesquisas o que de fato não ajudou em nada e outra amiga fica on essa pelo menos é Advogada, daí se eu resolvo levar o bicho no Pet Shop pra saber a idade do mesmo, ela pode me ajudar quando eu for presa e tiver que responder a um inquérito por manter um animal silvestre em cativeiro. Dei um oi pra ela e perguntei se tava tudo bem. Então eis que ela me pergunta:
- Ta fazendo o quê?
- Eu to aqui num saga pra saber a idade de um papagaio...
- Como assim?
Mais uma vez expliquei toda a ladainha, e ela simplesmente me diz:
- Ué...pergunta pra ele! (risos)
- Eu tentei, mas ele continua calado e desconfiado, acho que não estou perguntando com jeitinho.
Outra idéia panaca me surge, vou ver se ele ta ficando careca, quer dizer, careca ele não pode ficar porque não tem cabelos e sim penas, criei um novo termo, vou ver se ele está ficando PENECA (faz sentindo); olhei o louro por todos os ângulos e nada constatei de errado com a sua bela plumagem. Pensei em gritar pertinho dele, se ele entrasse em pânico e ficasse se tremendo, era um serzinho idoso, mas também desisti dessa idéia porque fiquei achando que eu poderia matar o coitado de susto ou então deixa-lo em estado de choque que não necessariamente iria indicar que ele é velho, porque em qualquer idade se pode ter um treco desses. Outro fato que me levou a abortar a idéia medíocre, foi o fato de eu ser definitivamente taxada como louca pelo meu clã.
Mas nem tudo estava perdido já que me coloquei a olhar os pezinhos do papagaio e vi que era lisinho, sem calosidades ou qualquer camada esbranquiçada.
Voltei pro computador e contei minha análise pra minha amiga “Vet”, então ela me disse:
- Ah, então né velho não Ana.
Depois de tantas idéias absurdas e um pouco de pesquisa, consegui descobrir e só após parei pra pensar o que é a ociosidade de uma pessoa e principalmente quando vem acompanhada de uma pitada de curiosidade excessiva. Perder tanto tempo em algo tão fútil.
Mas pelo menos toda essa novela serviu de inspiração para escrever mais um post no meu blog.
agora que sei que o papagaio é novo, vou passar para a segunda etapa, que é faze-lo falar.

Ana Herbster

segunda-feira, 13 de julho de 2009


EU NÃO SOU UMA ROCHA
Eu não sou uma rocha. Eu não sou tão forte assim. Não sou um ser inabalável. Eu sou frágil. Eu tenho meus medos. Mas tenho sempre que representar o papel que sou uma fortaleza.
Isso me consome!
Sabe quando você sente um arrocho no peito e a garganta fechando? E você precisa chorar para tentar lavar a alma e colocar toda a dor e angústia pra fora. Mas você não pode se desmanchar em lágrimas porque existem pessoas que precisam que você segure a barra. Daí você vai pro banheiro, liga o chuveiro e chora baixinho, deixando as lágrimas descerem junto com a água que cai lavando o corpo cansado. Mesmo assim a angústia permanece nas suas entranhas e vai te consumindo de uma forma doída e você tem necessidade de gritar, berrar, para tentar fazer parar de doer. Você pega a toalha e vai pro quarto, liga a televisão no máximo pra tentar mascarar os soluços, e aquele choro sofrido, sai meio que em silêncio pra não correr o risco de ser escutada. Você olha pros quatro cantos do quarto e percebe que está sozinha, e isso te deixa ainda mais venerável, então você fecha os olhos e deseja ter um ombro onde você possa derramar seu pranto, e esse ombro tenha mãos pra te acariciar os cabelos, e essas mãos tenham um rosto para olhar dentro dos seus olhos e dizer que vai ficar tudo bem, e por mais que você seja pessimista o bastante pra não conseguir acreditar nisso, você vai ter uma boca para beijar sua face e todo esse conjunto pra te abraçar e te fazer sentir menos mal.
O caminho vai ficando cada vez mais estreito, e a impressão que temos é que estamos dentro de um funil, e que não vamos conseguir passar.
Porque por mais que você queria parar no tempo, isso perde também o sentido, porque você não quer se tornar uma paisagem morta sendo um mero figurante na vida.
Caminhos foram feitos para serem trilhados, por mais que algumas direções sejam obrigatórias, sempre temos uma chance de escolher por onde devemos ir.
Outro dia alguém me disse: Eu vivo matando um leão a cada dia! Se tem gente que consegue, porque eu não?
Quero matar meus leões, quero ressurgir das cinzas. Quero ser Ana novamente. Quero poder encontrar meu ponto de equilíbrio e voltar a sentir a vida de forma leve e pura.
Ana Herbster

sábado, 11 de julho de 2009



Um Ser Insone

O café sumiu!
Eu fiz uma garrafa cheia a pouco mais de duas horas atrás, e agora bebo a última xícara do meu fiel companheiro das madrugadas de insônia em meio a papel e caneta. São quatro e meia da manhã e só tenho pensado em três coisas.
Coisa número um: escrever.
Coisa número dois: tomar café.
Coisa número três: fumar.
E por falar em fumar, semana passada eu comentei com alguém que já nem lembro quem, que iria parar com esse vício, recordo também da pessoa ter me dado a maior força; espero lembrar quem é a boa alma para comunicar-lhe que definitivamente desisti da idéia de parar com o tabagismo.
Já que relatei meu nojento vício do cigarro, lembrei agora o quanto odiei com todas as minhas forças toda a cúpula ministerial e excelentíssimo senhor presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, por ter encharcado o maldito cigarro com impostos que deveriam ir para outros produtos. E falando em impostos, que raiva que dar do IPI zero na compra dos carros novos. Fico vendo televisão e aquelas propagandas todas e pensando que eu bem podia comprar um carro desses pra mim, afinal ta tão fácil hoje em dia. Mesmo que eu passasse apenas três meses com ele, porque esse é o tempo que as financeiras levam para reaver o devido veículo quando não pagamos as prestações do mesmo. Talvez eu nem usufruísse por esses longos três meses, já que pra rodar no carango eu teria que estar de tanque sempre abastecido, mas se eu comprasse um que fosse flex ficaria um pouco mais acessível, já que o álcool ta mais barato que a gasolina, por outro lado (é incrível como tudo tem o outro lado), o motor movido a álcool faz uma quantidade menor de quilometragem que o motor a gasolina, no final das contas seria trocar seis por meia dúzia.
Nem sei por que fico imaginando essas coisas, se nesse exato momento eu tivesse mesmo que um certo percentual alcoólico mínimo que fosse no meu organismo eu ficaria mais tranqüila, mas infelizmente estou completamente sóbria..
Acabou mesmo o café, sepultei o último gole no interior da minha boca, gole esse já frio e ainda não provei nada pior que café frio, é meio um gosto de beijo não dado misturado com cerveja quente.
Dilema. Faço ou não mais café?
Eu bem queria desfrutar mais algumas xícaras desse fruto de origem Africana, mas como gosto de café forte e amargo e como o pote contém pó não suficiente nem para mais uma rodada digna, desisto da idéia e me sinto órfã dessa campainha quente, aromática e deliciosa.
O café vai ficar para amanhã de manhã e isso não nenhum trocadilho infame com a música do Rei Roberto Carlos, é só porque o sono chegou, o café acabou e agora também fumo o último cigarro da jornada insone. Lembrei de mais uma coisa, agora tudo que quero é um alguém pra dormir de conchinha, mas isso é outra história.

Ana Herbster

quarta-feira, 8 de julho de 2009



MÓRBIDO? NÃO! AUGUSTO DOS ANJOS

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno.
É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.
Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da
Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade.


Em

1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.
Com a obra de
Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.


Essa

filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.

A poesia brasileira estava dominada por simbolismo e parnasianismo, dos quais o poeta paraibano herdou algumas características formais, mas não de conteúdo. A incapacidade do homem de expressar sua essência através da “língua paralítica” (Anjos, p. 204) e a tentativa de usar o verso para expressar da forma mais crua a realidade seriam sua apropriação do trabalho exaustivo com o verso feito pelo poeta parnasiano. A erudição usada apenas para repetir o modelo formal clássico é rompida por Augusto dos Anjos, que se preocupa em utilizar a forma clássica com um conteúdo que a subverte, através de uma tensão que repudia e é atraída pela ciência.


A obra de Augusto dos Anjos pode ser dividida, não com rigor, em três fases, a primeira sendo muito influenciada pelo simbolismo e sem a originalidade que marcaria as posteriores. A essa fase pertencem Saudade e Versos Íntimos. A segunda possui o caráter de sua visão de mundo peculiar. Um exemplo dessa fase é o soneto Psicologia de um Vencido. A última corresponde à sua produção mais complexa e madura, que inclui Ao Luar.


Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita pelos modernistas.


O aspecto melancólico da sua poesia, que a marca profundamente, é interpretado de diversas maneiras. Uma vertente de críticos, na qual se inclui Ferreira Gullar, fundamenta a melancolia da obra na biografia do homem Augusto dos Anjos. Para Gullar, as condições de nossa cultura dependente dificultam uma expressão literária como a de Augusto dos Anjos, em que se rompe com a imitação extemporânea da literatura européia. Essa ruptura de Augusto dos Anjos ter-se-ia dado menos por uma crítica à literatura do que por uma visão existencial, fruto de sua experiência pessoal e temperamento, que tentou expressar na forma de poesia. A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada por Gullar como apresentando aspectos da poesia moderna: vocabulário prosaico misturado a termos poéticos e científicos; demonstração dos sentimentos e dos fenômenos não através de signos abstratos, mas de objetos e ações cotidianas; a adjetivação e situações inusitadas, que transmitem uma sensação de perplexidade. Ele compara a miscigenação de vocabulário popular com termos eruditos do poeta ao mesmo uso que faz

Graciliano Ramos. Descreve ainda os recursos estilísticos pelos quais Augusto dos Anjos tematiza a morte, que é personagem central de sua poesia, e o compara a João Cabral de Melo Neto, para quem a morte é apresentada de forma crua e natural.


Abordagem psicanalítica
Outros, Como

Chico Viana, procuram explicar a melancolia através dos conceitos psicanalíticos. Para Sigmund Freud, a melancolia é um sentimento parecido com o luto, mas se caracteriza pelo desconhecimento do melancólico a respeito do objeto perdido. A origem da melancolia da poesia de Augusto dos Anjos estaria, para alguns críticos, em reflexões de influências politica com os problemas de sua família, e num conflito edipiano de sua infância.


Abordagem bloomiana
Há ainda aqueles que tentam analisar a poesia de Augusto dos Anjos baseada em sua criatividade como artista, de acordo com o conceito da

melancolia da criatividade do crítico literário norte-americano Harold Bloom. O artista seria plenamente consciente de sua capacidade como poeta e de seu potencial para realizar uma grande obra, manifestando, assim, o fenômeno da "maldição do tardio". Sua melancolia viria da dificuldade de superar os “mestres” e realizar algo novo. Sandra Erickson publicou um livro sobre a melancolia da criatividade na obra de Augusto dos Anjos, no qual chama especial atenção para a natureza sublime da poética do poeta e sua genial apropriação da tradição ocidental. Segundo a autora, o soneto é a égide do poeta e, munido dele, Augusto dos Anjos consegue se inserir entre os grandes da tradição ocidental.


PSICOLOGIA DE UM VENCIDO

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epgênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!




BUDISMO MODERNO

Tome, Dr., esta tesoura, e ... corte

Minha singularíssima pessoa.

Que importa a mim que a bicharia roa

Todo meu coração, depois da morte?!

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!

Também, das diatomáceas da lagoa

A criptógama cápsula se esbroa

Ao contato de bronca destra forte!

Dissolva-se, portanto, minha vidaIgualmente a uma célula caída

Na aberração de um óvulo infecundo;

Mas o agregado abstrato das saudades

Fique batendo nas perpétua grades

Do último verso que eu fizer no mundo!


SOLITÁRIO

Como um fantasma que se refugia

Na solidão da natureza morta,

Por trás dos ermos túmulos, um dia,

Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia

Não era esse que a carne nos conforta

Cortava assim como em carniçaria

O aço das facas incisivas corta!


Mas tu não vieste ver minha Desgraça!

E eu saí, como quem tudo repele,

Velho caixão a carregar destroços


Levando apenas na tumbas carcaça

O pergaminho singular da pele

E o chocalho fatídico dos ossos!