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"Autopsicografia" Literária
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
GRITO DE ALERTA
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde no eterno azul, como uma eterna vela !
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
- Misera ! tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume !
Mas o sol, inclinando a rutila capela:
- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?
Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não te vejo mas imagino suas expressões, sua voz teu cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
quarta-feira, 15 de julho de 2009
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Em um reino muito distante, as pessoas eram bastante frias. O amor que tinham não passavam à diante, pois acreditavam que se dessem esse amor, elas ficaria fracas e morreriam. Pensando dessa forma, tudo foi ficando mais e mais frio, ninguém não se importava com ninguém, nada sensibilizava, elas simplesmente não amavam e não se sentiam amadas.
O rei já não amava a rainha, que em contra partida não amava a princesa, sem amor recebido, a princesa não esperava o príncipe, porque sabia que não ia dar seu amor a ele e nem iria receber amor. Os pastores não amavam os rebanhos, que deixaram de produzir leite e lã. O padeiro não amava mais a arte de fazer pães. As esposas não amavam seus maridos e assim não nasciam mais crianças nesse reino em que o amor não era exteriorizado, sentido. E tudo seguia sem cor, sem amor.
Até que um belo dia, um forasteiro chegou ao reino e achou de se apaixonar pela princesa e sem medo, entregou todo seu amor a ela, vendo que ele não havia morrido após entregar-lhe o amor, ela experimentou dar um pouco desse amor aos seus pais que ficaram surpresos com aquela luz que irradiava por todo o castelo.
Eis que o rei decretou que daquele momento em diante, era lei as pessoas darem e receberem amor, pois esse era o sentimento que iria salvar seu reino.
Os rebanhos nunca haviam produzido tanto leite e lã de qualidade como agora. Os pães que o padeiro fazia eram de excelente qualidade. Maridos e mulheres trocavam amor sem medo, e as crianças começaram a nascer saudáveis e cheias de amor para retribuir a dedicação dos pais.
Então, como em boa parte das histórias, todos viveram felizes para sempre.
Imaginem se a partir deste momento, cada um de nós resolvesse dar amor uns aos outros, sem nos perguntarmos se são brancos, negros, pardos, amarelos, índios, ricos, pobres, bons, ruins, lésbicas, gays, ladrões, assassinos, enfim; se pudéssemos amar nosso próximo, como gostaríamos de ser amados, e essa energia do amor tomasse tal proporção que acabasse com esse holocausto em que o nosso planeta Terra vive. Não existiriam mais guerras, nem fome, nem sede, as pessoas não passariam frio, e teríamos aprendido a maior lição de amor que o Nosso irmão Jesus veio nos ensinar. AMA TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO.
Quem sabe, nesse exato momento não estou plantando uma semente no teu coração que agora ler esse texto? A propósito, o amor é a maior força que existe, é ele que move nossas vidas, amar não dói, amar de peito aberto, faz bem ao coração e a alma.
E porque não agora olhar pro irmão que está ao teu lado, dar-lhe uma abraço fraterno e dizer meu irmão eu te amo?
Sei que esse tipo de coisa, alguém sempre tem que começar, então serei a primeira, você que agora está lendo, sinta-se abraçado e saiba que eu amo você meu irmão.
terça-feira, 14 de julho de 2009
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A SAGA DO PAPAGAIO
Esse papagaio é velho. Ele não fala e vive quieto pelos cantos.
Lá fui eu encarnar a Veterinária para tentar desvendar se o tal bichinho afinal é novo ou velho.
Recorri às páginas de pesquisa do Santo Google, para resolver o mistério. Lia algo, levantava, ia até o quintal e examinava a pobre ave, que além de não entender nada do que estava acontecendo ficou bem desconfiada.
Mas daí você devem está pensando o quanto as lamparinas do meu cérebro estão apagadas, pra eu não levar logo o bicho em um Veterinário especializado em animais silvestres e acabar de uma vez por todas essa história.
Bem, acreditem, eu pensei nisso! Seria bem mais fácil a não ser pelo fato do papagaio não ter registro no IBAMA, já que eu não tinha a certidão de nascimento dele eu estaria cometendo um crime, daí meu fantástico mundo de Bob (vocês lembram desse desenho?) criou toda a cena na minha cabecinha fértil. Eu na sala de espera da clínica, segurando uma gaiola contendo uma ave silvestre dentro e a fiscalização chegando e me dando voz de prisão pelo tal delito. Desisti na mesma hora.
Lembrei que tenho uma amiga que mora em outra cidade que é Veterinária e sempre recorro a ela quando preciso saber algo relacionado aos meus bichinhos de estimação, entrei no messenger, e via que ela estava on-line, e fui logo perguntando:
- Oi...td bem??
Assim, como eu faço pra saber se um papagaio é novo ou velho?
- Hã?
Não sei...
- Ah, tudo bem...você deve ter faltado nessa aula.
Continuei nas páginas de pesquisas o que de fato não ajudou em nada e outra amiga fica on essa pelo menos é Advogada, daí se eu resolvo levar o bicho no Pet Shop pra saber a idade do mesmo, ela pode me ajudar quando eu for presa e tiver que responder a um inquérito por manter um animal silvestre em cativeiro. Dei um oi pra ela e perguntei se tava tudo bem. Então eis que ela me pergunta:
- Ta fazendo o quê?
- Eu to aqui num saga pra saber a idade de um papagaio...
- Como assim?
Mais uma vez expliquei toda a ladainha, e ela simplesmente me diz:
- Ué...pergunta pra ele! (risos)
- Eu tentei, mas ele continua calado e desconfiado, acho que não estou perguntando com jeitinho.
Outra idéia panaca me surge, vou ver se ele ta ficando careca, quer dizer, careca ele não pode ficar porque não tem cabelos e sim penas, criei um novo termo, vou ver se ele está ficando PENECA (faz sentindo); olhei o louro por todos os ângulos e nada constatei de errado com a sua bela plumagem. Pensei em gritar pertinho dele, se ele entrasse em pânico e ficasse se tremendo, era um serzinho idoso, mas também desisti dessa idéia porque fiquei achando que eu poderia matar o coitado de susto ou então deixa-lo em estado de choque que não necessariamente iria indicar que ele é velho, porque em qualquer idade se pode ter um treco desses. Outro fato que me levou a abortar a idéia medíocre, foi o fato de eu ser definitivamente taxada como louca pelo meu clã.
Mas nem tudo estava perdido já que me coloquei a olhar os pezinhos do papagaio e vi que era lisinho, sem calosidades ou qualquer camada esbranquiçada.
Voltei pro computador e contei minha análise pra minha amiga “Vet”, então ela me disse:
- Ah, então né velho não Ana.
Depois de tantas idéias absurdas e um pouco de pesquisa, consegui descobrir e só após parei pra pensar o que é a ociosidade de uma pessoa e principalmente quando vem acompanhada de uma pitada de curiosidade excessiva. Perder tanto tempo em algo tão fútil.
Mas pelo menos toda essa novela serviu de inspiração para escrever mais um post no meu blog.
agora que sei que o papagaio é novo, vou passar para a segunda etapa, que é faze-lo falar.
Ana Herbster
segunda-feira, 13 de julho de 2009
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Isso me consome!
Sabe quando você sente um arrocho no peito e a garganta fechando? E você precisa chorar para tentar lavar a alma e colocar toda a dor e angústia pra fora. Mas você não pode se desmanchar em lágrimas porque existem pessoas que precisam que você segure a barra. Daí você vai pro banheiro, liga o chuveiro e chora baixinho, deixando as lágrimas descerem junto com a água que cai lavando o corpo cansado. Mesmo assim a angústia permanece nas suas entranhas e vai te consumindo de uma forma doída e você tem necessidade de gritar, berrar, para tentar fazer parar de doer. Você pega a toalha e vai pro quarto, liga a televisão no máximo pra tentar mascarar os soluços, e aquele choro sofrido, sai meio que em silêncio pra não correr o risco de ser escutada. Você olha pros quatro cantos do quarto e percebe que está sozinha, e isso te deixa ainda mais venerável, então você fecha os olhos e deseja ter um ombro onde você possa derramar seu pranto, e esse ombro tenha mãos pra te acariciar os cabelos, e essas mãos tenham um rosto para olhar dentro dos seus olhos e dizer que vai ficar tudo bem, e por mais que você seja pessimista o bastante pra não conseguir acreditar nisso, você vai ter uma boca para beijar sua face e todo esse conjunto pra te abraçar e te fazer sentir menos mal.
O caminho vai ficando cada vez mais estreito, e a impressão que temos é que estamos dentro de um funil, e que não vamos conseguir passar.
Porque por mais que você queria parar no tempo, isso perde também o sentido, porque você não quer se tornar uma paisagem morta sendo um mero figurante na vida.
Caminhos foram feitos para serem trilhados, por mais que algumas direções sejam obrigatórias, sempre temos uma chance de escolher por onde devemos ir.
Outro dia alguém me disse: Eu vivo matando um leão a cada dia! Se tem gente que consegue, porque eu não?
Quero matar meus leões, quero ressurgir das cinzas. Quero ser Ana novamente. Quero poder encontrar meu ponto de equilíbrio e voltar a sentir a vida de forma leve e pura.
sábado, 11 de julho de 2009
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Um Ser Insone
O café sumiu!
Eu fiz uma garrafa cheia a pouco mais de duas horas atrás, e agora bebo a última xícara do meu fiel companheiro das madrugadas de insônia em meio a papel e caneta. São quatro e meia da manhã e só tenho pensado em três coisas.
Coisa número um: escrever.
Coisa número dois: tomar café.
Coisa número três: fumar.
E por falar em fumar, semana passada eu comentei com alguém que já nem lembro quem, que iria parar com esse vício, recordo também da pessoa ter me dado a maior força; espero lembrar quem é a boa alma para comunicar-lhe que definitivamente desisti da idéia de parar com o tabagismo.
Já que relatei meu nojento vício do cigarro, lembrei agora o quanto odiei com todas as minhas forças toda a cúpula ministerial e excelentíssimo senhor presidente da república Luís Inácio Lula da Silva, por ter encharcado o maldito cigarro com impostos que deveriam ir para outros produtos. E falando em impostos, que raiva que dar do IPI zero na compra dos carros novos. Fico vendo televisão e aquelas propagandas todas e pensando que eu bem podia comprar um carro desses pra mim, afinal ta tão fácil hoje em dia. Mesmo que eu passasse apenas três meses com ele, porque esse é o tempo que as financeiras levam para reaver o devido veículo quando não pagamos as prestações do mesmo. Talvez eu nem usufruísse por esses longos três meses, já que pra rodar no carango eu teria que estar de tanque sempre abastecido, mas se eu comprasse um que fosse flex ficaria um pouco mais acessível, já que o álcool ta mais barato que a gasolina, por outro lado (é incrível como tudo tem o outro lado), o motor movido a álcool faz uma quantidade menor de quilometragem que o motor a gasolina, no final das contas seria trocar seis por meia dúzia.
Nem sei por que fico imaginando essas coisas, se nesse exato momento eu tivesse mesmo que um certo percentual alcoólico mínimo que fosse no meu organismo eu ficaria mais tranqüila, mas infelizmente estou completamente sóbria..
Acabou mesmo o café, sepultei o último gole no interior da minha boca, gole esse já frio e ainda não provei nada pior que café frio, é meio um gosto de beijo não dado misturado com cerveja quente.
Dilema. Faço ou não mais café?
Eu bem queria desfrutar mais algumas xícaras desse fruto de origem Africana, mas como gosto de café forte e amargo e como o pote contém pó não suficiente nem para mais uma rodada digna, desisto da idéia e me sinto órfã dessa campainha quente, aromática e deliciosa.
O café vai ficar para amanhã de manhã e isso não nenhum trocadilho infame com a música do Rei Roberto Carlos, é só porque o sono chegou, o café acabou e agora também fumo o último cigarro da jornada insone. Lembrei de mais uma coisa, agora tudo que quero é um alguém pra dormir de conchinha, mas isso é outra história.
Ana Herbster
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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MÓRBIDO? NÃO! AUGUSTO DOS ANJOS
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno.
É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.
Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, no município de Sapé, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade.
Em
Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.
Essa
A poesia brasileira estava dominada por simbolismo e parnasianismo, dos quais o poeta paraibano herdou algumas características formais, mas não de conteúdo. A incapacidade do homem de expressar sua essência através da “língua paralítica” (Anjos, p. 204) e a tentativa de usar o verso para expressar da forma mais crua a realidade seriam sua apropriação do trabalho exaustivo com o verso feito pelo poeta parnasiano. A erudição usada apenas para repetir o modelo formal clássico é rompida por Augusto dos Anjos, que se preocupa em utilizar a forma clássica com um conteúdo que a subverte, através de uma tensão que repudia e é atraída pela ciência.
A obra de Augusto dos Anjos pode ser dividida, não com rigor, em três fases, a primeira sendo muito influenciada pelo simbolismo e sem a originalidade que marcaria as posteriores. A essa fase pertencem Saudade e Versos Íntimos. A segunda possui o caráter de sua visão de mundo peculiar. Um exemplo dessa fase é o soneto Psicologia de um Vencido. A última corresponde à sua produção mais complexa e madura, que inclui Ao Luar.
Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos, mas hoje é um dos poetas brasileiros que mais foram reeditados. Sua popularidade se deveu principalmente ao sucesso entre as camadas populares brasileiras e à divulgação feita pelos modernistas.
O aspecto melancólico da sua poesia, que a marca profundamente, é interpretado de diversas maneiras. Uma vertente de críticos, na qual se inclui Ferreira Gullar, fundamenta a melancolia da obra na biografia do homem Augusto dos Anjos. Para Gullar, as condições de nossa cultura dependente dificultam uma expressão literária como a de Augusto dos Anjos, em que se rompe com a imitação extemporânea da literatura européia. Essa ruptura de Augusto dos Anjos ter-se-ia dado menos por uma crítica à literatura do que por uma visão existencial, fruto de sua experiência pessoal e temperamento, que tentou expressar na forma de poesia. A poesia de Augusto dos Anjos é caracterizada por Gullar como apresentando aspectos da poesia moderna: vocabulário prosaico misturado a termos poéticos e científicos; demonstração dos sentimentos e dos fenômenos não através de signos abstratos, mas de objetos e ações cotidianas; a adjetivação e situações inusitadas, que transmitem uma sensação de perplexidade. Ele compara a miscigenação de vocabulário popular com termos eruditos do poeta ao mesmo uso que faz
Abordagem psicanalítica
Outros, Como
Abordagem bloomiana
Há ainda aqueles que tentam analisar a poesia de Augusto dos Anjos baseada em sua criatividade como artista, de acordo com o conceito da
PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epgênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
BUDISMO MODERNO
Tome, Dr., esta tesoura, e ... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contato de bronca destra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vidaIgualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétua grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
SOLITÁRIO
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
Velho caixão a carregar destroços
Levando apenas na tumbas carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!